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DO LIXO À POESIA: O PROJETO CARTONERO NA DIFUSÃO DO PORTUNHOL SELVAGEM DE DOUGLAS DIEGUES
Ângela Cristina Dias do Rego Catonio
Este estudo faz uma reflexão sobre a
edição cartonera na difusão da obra em portunhol selvagem do
poeta sul-mato-grossense Douglas Diegues. Os projetos cartoneros
são elaborados por editoras ou cooperativas que produzem obras
literárias com materiais provindos do lixo, em edição limitada,
de aspecto artesanal e artístico. As capas dos livros são de
papelão recolhido pelas ruas, recortadas e pintadas à mão, uma a
uma. Essas obras de roupagem cartonera se revestem de aspecto
marginal e trazem forte carga simbólica ao vincular a cultura do
lixo com a cultura letrada. Procura-se também desvendar algumas
características dessa linguagem transfronteiriça e analisar e
discutir seus aspectos simbólicos e culturais, uma vez que as
edições cartoneras dão novos sentidos a uma literatura de
contornos bem próprios de uma tendência literária contemporânea
de caráter híbrido. Em consonância com essa proposta de
marginalidade, o portunhol selvagem mescla as línguas portuguesa,
espanhola e guarani e emerge em sua forma híbrida e mestiça como
uma língua anárquica, irônica e engajada, situando-se acima dos
espaços geográficos e culturais. As edições cartoneras permitem
ao portunhol um aspecto diferenciado e inusitado, rompendo os
padrões convencionais de veiculação editorial tradicional da
contemporaneidade.
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