Apresentação

 

Prezados amigos,

 

 é sempre com satisfação que anunciamos um novo número de nossa Lumen et Virtus que, esperamos, possa agradar a todos aqueles que, como nós, se dedicam à pesquisa das Humanidades!

Este número, como sempre repleto de excelentes textos, demonstra o caráter interdisciplinar deste veículo, conforme é possível observar nos artigos aqui presentes que versam sobre áreas diversas, mas que se imiscuem, demonstrando seu caráter plural.

Neste mês de março, costuma-se refletir acerca da mulher e de seu papel, de suas lutas e se suas vitórias em uma sociedade que insiste em ser excludente, ainda mais hoje em que se carregam discursos cada vez mais misóginos.

Assim, apresentamos dois textos que abordam, de certa maneira, a questão feminina. Primeiramente, as pesquisadoras Josilene Pinheiro-Mariz e Déborah Miranda nos mostram como a África subsaariana vivenciou, nos anos de 1970, um importante avanço quanto à luta feminista, influenciando escritoras que, por diversos vieses, têm se expressado, sobretudo pelas linhas da ficção e por gêneros literários distintos. Dentre esses, destaca-se a narrativa gráfica enquanto uma expressiva forma para manifestar resistência ao patriarcado e também como consciência a respeito da condição feminina. Autoras africanas como como a marfinense Marguerite Abouet, por exemplo, têm realizado uma importante trajetória enquanto agente na reconstrução da imagem da mulher, que vem sendo vista, tradicionalmente, de forma estereotipada nos demais continentes.

Já Adriana Falqueto Lemos apresenta-nos a forma como as representações do desejo e do feminino são apropriadas pelos diretores Lars Von Trier e Joël Séria, e inscrevem-se nas narrativas fílmicas Ninfomaníaca: Volume 1 (2013), e Mais ne nous délivrez pas du mal (1971), quando se reconhece que ambas as produções parecem desvelar um corpo feminino erotizado, apesar de ainda ser, de certa maneira, moralizado pelo expectador.

Robson Caetano dos Santos, por sua vez, mostra-nos a questão da transposição semiótica para a televisão da obra Grande Sertão: Veredas, e como roteiristas e adaptadores tiveram de recriar a complexa imagem androgênica da personagem Diadorim, mulher disfarçada de jagunço, interpretada pela atriz Bruna Lombardi. O pesquisador aborda, dessa maneira, a questão recorrente acerca da fidelidade aos originais, como critério de julgamento sobre seu valor artístico.

Ainda no campo da literatura, mas agora abordando sua adaptação para o cinema, Alessandra Gomes da Silva propõe uma discussão acerca de dois filmes baseados na autobiografia de Helen Keller, autora um dos personagens surdos mais representados no cinema. Assim, a partir da análise do texto escrito e de duas produções audiovisuais, a pesquisadora tratará da mudança nas representações da surdez, que passará de uma visão clínica para a de sua inserção em grupos ligados à diferença.

A pesquisadora Edwirgens Aparecida Almeida, ainda na seara literária, examina a íntima relação entre a obra do autor simbolista Emiliano Perneta e as imagens filosóficas do final do século XIX, tendo como referência os filósofos Henri Bérgson e Arthur Schopenhauer, a fim de demonstrar como seus ideários estão presentes na escrita do poeta.

Ao se abordar a questão imagética e em sua espetacularização pela mídia, ainda mais nos tempos sombrios nos quais estamos inseridos, Fabio Luiz Witzki e Vanessa de Cássia Colatusso referem-se aos fatos que marcaram a recente história política do Brasil, nas quais se inserem o processo de impeachment, as passeatas que dividiram os brasileiros, as ações do Ministério Publico Federal e, de modo especial, o processo de inclusão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na condição de réu. Isso porque, a cada nova projeção do processo, tem-se a intenção de se promoverem espetáculos midiáticos apropriados e reconfigurados.

Partindo dessa ideia, seguimos com a pesquisadora Marília Valencise Magri que adentra na senda da Análise do Discurso, ao promover uma inflexão por seus percursos com vistas à compreensão da consolidação das atuais problemáticas, ao focalizar a emergência contemporânea de novos regimes de discursividade, cotejando seu entendimento, de modo especial, ao Brasil atual.

País que, até pouco tempo, fingia ser um local de tolerância e de cordialidade, mas que se mostra cada vez mais intolerante, seja in loco, seja virtualmente, conforme quer demonstrar Rosiane Rodrigues de Almeida. A pesquisadora busca apontar algumas considerações em um campo ainda pouco explorado: a das relações afetivas no ambiente virtual, considerando a questão religiosa. Conforme apontam diversos dados, os ambientes digitais, apesar de ainda pouco explorados, se revelam espaços profícuos para a investigação antropológica. A originalidade se dá devido ao recorte sobre ao pertencimento religioso evidenciado no perfil do usuário que, pelo menos no caso do candomblé, se torna ponto principal para que algum tipo de relação seja, ou não, estabelecida.

Devido à necessidade de uma consciência mais interdisciplinar no ambiente escolar, além de se buscar clareza nesse conceito, os pesquisadores Jack Brandão e Patrícia Pereira não só o abordam, como também discutem sua empregabilidade, por meio das linguagens verbal e não verbal, na educação infantil de crianças de zero a três anos. Isso porque tal emprego pode ser um canal para sua efetivação, visto que se pode considerar tal proposta como um princípio pedagógico capaz de reformular a prática educativa.

Por fim, temos o pesquisador da História da Arte, Marcelo Campos Tiago, que homenageia um dos grandes artistas sacros que o Brasil e o mundo perdeu recentemente: Cláudio Pastro. Ao buscar contextualizar os processos de produção estética do artista, tendo em vista as transformações litúrgicas que ocorreram no interior da Igreja Católica após o Concílio Vaticano II, o pesquisador propõe um tríplice enfoque: as relações entre liturgia e arte sacra; as mudanças de postura da Igreja em relação ao espaço sagrado; e as respostas pessoais de Pastro a essas mudanças.

 

Agradeço, mais uma vez, sua confiança e comunico que, se tudo permanecer como o planejado, estaremos em uma nova plataforma em nosso próximo número, afinal em breve estaremos em nosso número 20!

 

Saudações acadêmicas!

 

Prof. Dr. Antônio Jackson de Souza Brandão

                    Editor