Apresentação

 

 

Prezados amigos!

 

Como sempre, é um grande prazer poder compartilhar conhecimentos de nossos colegas pesquisadores do Brasil e do exterior, ainda mais em tempos tão conturbados como os nossos. Se não bastasse a situação pandêmica pela qual estamos passando – apesar de vermos uma luz tênue no fim do túnel em meio ao (quase) rescaldo de sua triste passagem que paralisou o planeta por quase dois anos –, ainda vemos a triste situação em nosso país que se mostra, cada vez mais, à deriva.

Projetos culturais e educacionais relegados ao limbo institucional, sem contar o fomento do ódio contra instituições, bem como a seus profissionais que sempre tiveram de lidar com diversos reveses. Difícil situação a que relegaram nossa cultura e educação... enfim, não podemos esmorecer e nossa maneira de gritar é escrevendo e produzindo conteúdo!

 Neste número, perceberemos várias contribuições no campo literário. O pesquisador José Osmar de Melo, por exemplo, visa a analisar, sob a perspectiva da ironia, a influência das questões familiares, sociais e econômicas sobre as relações amorosas na novela romântica Coração, cabeça e estômago, de Camilo Castelo Branco. Já Pedro Panhoca da Silva pretende mostrar como novos escritores em potencial podem se beneficiar por meio de antologias literárias a fim de preencher uma nova demanda existente no mercado editorial, além de contribuir com os registros da literatura do calor do momento e oferecer a leitores algo voltado à temática pandêmica atual. A pesquisadora argentina Flavia Garione abordará a poesia contemporânea do país de modo especial a produção artística da poetisa, musicista Susy Shock, que remonta ao início dos anos 2000, mas que se estende, de maneira heterogênea e variada, até a atualidade.

No campo intersemiótico, Edson Carlos Romualdo e Lilian Regina Gobbi Bachii abordam como se dá a constituição das personagens infantis da obra literária O Pequeno Príncipe, escrita por Antoine Saint-Exupéry em 1943, e na adaptação cinematográfica de mesmo título, dirigida por Mark Osborne em 2015, a partir da exotopia.

No campo da arte e, de modo específico, na memória ceramista, Eliane Righi de Andradei e Acácia Rósea Souza Azevedo tem como intuito abordar a memória cerâmica no que diz respeito às relações entre a história do ateliê e modos de subjetivação. Seu interesse deriva do fato de tanto a referida arte como o espaço de trabalho do artista ceramista possuírem poucos – podemos até dizer raros – registros formais academicamente reconhecidos. Além disso, cabe destacar especialmente que a memória integrada desvincula a memória do passado da prática presente e, portanto, desconsidera seus dobramentos, ou seja, a escrita de si, as marcas dos modos de subjetivação do sujeito ceramista.

Christiane Meier, por sua vez, pretende discutir o logotipo desenvolvido por Marko Ivan Rupnik para o Ano Jubilar Extraordinário de 2016, Ano da Misericórdia, e a arte sacra cristã. Abordará a atualidade do tema, passados cinco anos do Ano Jubilar e diante do contexto de pandemia no qual o mundo se encontra. Em seguida, observaremos as características do logotipo e suas tradições latina e oriental. Por tratar-se de arte sacra, nos moveremos em uma chave simbólica, não naturalista, na qual tudo tem um significado.

Jorge Tenório Fernando, Leonardo Nelmi Trevisanii e Ladislau Dowbor discutirão o uso do tempo de trabalho e não-trabalho e apresenta o conceito de “excedente cognitivo” para debater como as pessoas podem utilizar parte de seu tempo livre conectando-se a outras para apoiar atividades de interesse comum. Com exemplos brasileiros, advoga que a conexão à internet pode ser uma ferramenta poderosa para as pessoas se comunicarem, compartilharem e construírem conhecimento coletivamente; ademais, sugere-se valorizar o tempo livre da mesma forma que se faz com o tempo de trabalho. No entanto, no polo oposto, a conectividade também engendra uma característica de mecanismo de controle social por meio do uso crescente do "panóptico da informação" e do fenômeno Big Other, que podem afetar ações humanas por meio de um domínio da máquina sobre atividades importantes na vida das pessoas, dentro e fora do trabalho.

Para encerrar temos, na seção de entrevistas, a jornalista Mariana Mascarenhas que entrevista a consagrada escritora infanto-juvenil Isabel Cintra, residente em Escocolmo, na Suécia, e que criou (e vem criando) histórias infantis protagonizadas por personagens pretos.

 

 

Ótima leitura  e saudações acadêmicas!

 

Prof. Dr. Jack Brandão

Editor