Apresentação
Olá,
amigos!
Assim, com esse poder em
suas mãos, um ser fraco e passível de destruição,
como o homem, construiria a técnica e com ela
fabricaria ferramentas com as quais vislumbraria uma
dupla realidade: a de poder arar a terra, produzir
alimentos e manter a vida; e a de empregar armas,
com as quais se defenderia de perigos externos, mas
que, inevitavelmente, levariam também à morte...
O fogo, porém, não se
restringiria a isso, iria além: forneceria calor,
abrigo e luz... A mesma que levou a humanidade
a conhecer-se enquanto imagem, bem como ao mundo que
está a seu redor, a fim de que também pudesse
fabricar imagens no recôndito das cavernas...
Assim, sob os auspícios de
Prometeu, que teve de pagar por seu atrevimento,
aqui estamos nós mais uma vez, pagando também pelo
nosso. Só que, à diferença do titã que via suas
carnes serem devoradas, nós vemos que o fruto de
nosso atrevimento está na valorização de nossa
revista, conforme demonstra o altíssimo nível dos
artigos presentes neste número.
O professor Álvaro Cardoso
Gomes brinda-nos com um ensaio cujo escopo principal
será a reflexão sobre uma tela renascentista,
pintada por Pieter Bruegel. Nela, encontram-se os
motivos tradicionais da pintura do Renascimento: a
valorização do humano e a representação de um mundo
novo, pautado pelo trabalho, pela ordem e pelo
racionalismo. No entanto, devido à genialidade do
pintor, há nela algo de intrigante: a representação
anacrônica do mito de Ícaro que servirá ao artista
para demonstrar todo o euforia de seu momento.
A
professora Nery Reiner apresenta-nos o conceito da
obra de arte como jogo, a partir da criação poética
de Manoel de Barros, em cuja obra verificam-se o
lúdico, a brincadeira e o humor. O poeta forma, com
suas palavras escolhidas a dedo, um verdadeiro
caleidoscópio, não só mostrando novas estruturas,
como também deixando explícito o desejo de brincar
com os elementos linguísticos, assim como os da
natureza.
O professor Heinrich Fonteles identificará limites e
potências das imagens técnicas, a fim de refletir
sobre a força da imagem visual, em especial a
televisiva, cuja baliza são as intenções da TV
Record, ou melhor, da Igreja Universal do Reino de
Deus.
O
professor Carlos Junior Gontijo Rosa, por seu lado,
procura estabelecer um paralelo entre a tragédia
grega As Troianas, de Eurípides, e duas de
suas adaptações modernas: o espetáculo de dança-teatro
do Grupo Ar Cênico, da UNICAMP (2005), e o filme de
Michael Cacoyannis (1971). Por meio de um estudo
comparativo entre os elementos constituintes da
estrutura trágica, de sua utilização nas adaptações
e das discussões modernas, verificará não só a
função da mulher, como também a adequação do mito à
audiência contemporânea.
Por fim, temos o professor
Eduardo Antônio Bonzatto que tratará da colonização
no plano da cultura, expresso pela mitologia das
histórias em quadrinhos, bem como da degradação do
poder de Deus e da classe, agora disponível ao homem
comum.
A todos, desejamos uma boa leitura!